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terça-feira, 29 de novembro de 2011

Mais um ano que se passa

Como é costume no meu blog, a cada fim de ano eu resolvo dar uma repaginada no visual e na proposta do blog. A proposta não deve mudar muito o foco em curiosidades e informações a respeito do mundo das cervejas será mantido. Porém, a partir de 2012, os temas serão apresentados no formato de vídeo, assim como é feito pelo colega Daniel Wolff no seu site: www.mestre-cervejeiro.com. Recomendo muito a visita ao site dele e espero que as novas apresentações e ideias do ano que virá atraiam mais seguidores, colegas, amigos, além dos poucos que consegui cativar com esse blog ao longo deste ano de 2011. Se eu conseguir fazer pelo menos uma pessoa se apaixonar pelas cervejas como eu me apaixonei, já terá valido a pena!

Que venham as festas e um novo ano cheio de novas empreitadas!


segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Degustação de Cervejas Argentinas

Estive em Buenos Aires na semana passada (de 18-11 a 25-11) e como bom amante das cervejas, apesar das inúmeras recomendações de que a força porteña está em outra fermentação (a da uva em vinho), resolvi conhecer mais de perto a cena cervejeira em Buenos Aires.

Encontrei pouco material de referência, exceto o site do brejas (eterna referência) e o paraquevocerveja.blogspot.com, do Rodrigo Campos, que me deu dicas de alguns outros lugares interessantes para visitar.

Começamos pelo Buller (www.bullerpub.com), uma microcervejaria situada no bairro da Recoleta com fililal no centro, que foi onde conhecemos a casa. Pedimos o menu degustação com as 6 cervejas da casa "tiradas" (o mesmo que chopp pra nós). Dos 6 estilos bebidos (Pilsen, Weiss, Honey Beer, Oktoberfest, IPA e Stout), somente a Pislen e a Oktoberfest se destacaram, apresentando harmonia e características sensorias diferenciadas. A Pilsen, com um dulçor maltado e leve aroma de mel, remeteu a representantes brasileiras como a Backer Pilsen. A Oktoberfest chamou atenção por ser uma versão balanceada e com leve presença de malte da IPA oferecida, então, apesar de ser boa, não obedecia muito à proposta de ser uma Oktoberfest. As outras cervejas apresentaram defeitos desagradáveis que comprometeram a degustação, além de me darem o primeiro sinal amarelo para um fato que viria a se repetir nas próximas degustações: descuido na fabricação (ou limitação tecnológica) e pouca variedade de ingredientes na Argentina. Comemos um tira-gosto leve e repetimos (Eu, Polly e Pia) as nossas preferidas. A conta saiu cerca de 50 reais por pessoa.

Seguimos nessa mesma noite para o Kilkenny (www.thekilkenny.com.ar), um típico Pub do rock, com iluminação baixa, uma excelente banda ao vivo, um grande bar central e várias mesas com assentos almofodados. Lá eu provei a Grolsch (garrafa), uma Premium American Lager boa, remetendo a uma Bohemian Pilsner - devido à utilização de mais de um lúpulo na sua formulação e ao amargor um pouco mais presente que o normal - mas cara para o que oferece, sendo comparável a outras boas Lagers que possuem preço mais acessível e maior personalidade. Pia (chefe argentina da Polly, por isso nos encontramos lá!) foi de Negra Modelo, uma Vienna Lager que tem o dulçor característico do malte, puxando bem prum caramelo, tornando a sua degustação ótima! A escuridão da cerveja no copo nos levou a crer que era uma Dunkel, assim como as leves notas puxando para o torrado no conjunto, mas Vienna Lager cabe muito bem no estilo também, tendo um pouco mais de personalidade que uma típica Vienna. Polly foi de Warsteiner tirada, uma Pils alemã que na Argentina tem preços acessíveis e torna uma excelente alternativa à comuníssima Quilmes e à um pouco menos comum Stella Artois. Cada cerveja saiu a cerca de 15 reais por pessoa e foi só isso que bebemos ali.





No dia seguinte, fomos para a Cervelar (www.cervelar.com.ar), uma típica loja de cervejas artesanais, com longas estantes de madeira repletas de cerveja, decoração temática e algumas mesinhas para sentar e beber lá dentro alguns dos poucos chopps disponíveis e/ou a grande maioria dos rótulos à venda. A atendente, que parecia ser a proprietária, nos tratou muito bem (ficamos no bar conversando com ela) e parecia que não conhecia muita coisa de cerveja fora do seu país. Começamos (eu e Polly) pela Barba Roja Lager, com interessantes notas de mel e um corpo bacana devido à menor quantidade de filtrações que sofre no processo de sua fabricação. Apesar da característica mais doce e puxada pro malte, tem o retrogosto do lúpulo presente e discreto, tornando-a uma típica e boa Lager. Fui de Sixtofer IPA - já que falei e falei de novo do meu amor pelas IPAs e a atendente me garantiu que essa era uma das melhores dali - e realmente provei uma boa IPA, bem floral, bem harmônica e de um vermelho intenso bem bonito. Polly foi de Deleuzer Trippel, com bastante sabor de tutti-frutti e uma presença mais discreta de damasco. Cor acobreada e espuma persistente de pequenas bolhinhas, mostrando uma fermentação complexa. Bebemos tiradas da Kraken (IPA) e da Mula (Lager), que apresentou alguns defeitos como DMS e H2S e não apresentou o corpo, a espuma e a personalidade das em garrafa que degustamos. Mas, como estávamos emplogados com a boa descoberta do dia, resolvemos levar algumas para beber no quarto do hotel e descobrimos, mais tarde, que devíamos ter ficado com a boa impressão do bar...


Num outro dia a noite, fomos beber as cervejas que adquirimos no Cervelar, após um dia de caminhadas, e veio aí uma grande decepção. Tomamos alguns rótulos e a conclusão foi a que o fermento utilizado na Argentina não é dos melhores ou não é bem utilizado, porque a maioria dos rótulos nos forneceu um forte aroma de pão ou era mais voltado para o tutti-frutti (o mesmo da Trippel, que apareceu em 2 Dubbels de marcas diferentes, dando a entender que as Dubbels ali são versões mais brandas das Trippels, pois era exatamente isso que elas eram). Outra característica muito presente foi o forte gosto de cinzas em cervejas escuras que não eram Rauchbier, mostrando uma qualidade menor do malte ou uma limitação tecnológica na hora de torrar os maltes, deixando todas com o mesmo gosto final e persistente de cinzeiro, para nossa infelicidade. A única que salvou foi a Barba Roja Bock, que obedeceu fielmente ao estilo, apresentando notas suaves de torra (sem cinzas) e potente álcool e gosto de malte, uma delícia que vale a pena repetir.

Apesar de tudo, voltei com a boa sensação (rival da Argentina que somos, hehehe) de que nosso cenário cervejeiro está algumas décadas à frente do dos hermanos, para nossa alegria - pois ele está ainda engatinhando! Orgulho de ser brasileiro!

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

On-flavours IV

Depois de um tempo ausente, volto para complementar a série de on-flavours com alguns flavours que achei que são importantes e não enquadravam em nenhuma das sub-categorias dos outros posts. Vou aproveitar este post também para dar algumas boas dicas da TV e internet sobre cervejas!

O primeiro flavour que vou mencionar é o spicy (condimento, especiaria) que não sei como não tinha colocado ele até agora. Muitas das belgas tem esse flavour, seja por adição de alguma especiaria de fato, ou durante a maturação da cerveja. O elemento associado a esse flavour é o Eugenol (ou 2-metoxi-4-(2-propenil)fenol). Esse segundo a gente não precisa nem tentar memorizar... Esse flavour puxa menos para o cravo e mais para as pimentas. Tentei achar mais explicações da origem e da formação desse flavour e não obtive sucesso, só consegui descobrir que o elemento químico associado a ele é muitas vezes associado a óleos e essências de cravo e tem nomes menos complexos que o apresentado aqui como 4-metil-2-metoxifenol. Esse flavour é off em cervejas lagers ou pale ale, indicando uma contaminação, já que a maturação dessas não é usualmente prolongada.


Outro flavour não mencionado foi o de amêndoas, oriundo do Benzaldeído. É usualmente um off-flavour, sendo desejável em cervejas frutadas, como ocorre na Floris Fraise mencionada aqui no blog, uma cerveja aromatizada com morango. Também é um flavour associado com o "envelhecimento", mas nesse caso é com a estocagem e não com a maturação.


Esse último flavour é o mais inusitado de hoje: o caprílico, associado ao ácido octanóico e causado pela levedura durante a maturação e não a fementação. Off-flavour em altas concentrações e on-flavour em concentrações moderadas, já que vai trazer uma semelhança com queijos maturados (principalmente os de: leite de cabra), aumentando a complexidade da cerveja.


Com esse post, além de finalizar minha série de posts sobre flavours, concluí que certamente alguns dos flavours que dou por certo, com por exemplo: cravo é 4-vinil-guaiacol da fermentação, não é necessariamente só daí que ele veio, podendo ter sido oriundo de alguma ação na maturação, e estar assim também associado ao Eugenol.

Agora vamos para a segunda parte do post. A primeira dica que vou dar aqui é a visita ao site do Daniel Wollf (www.mestre-cervejeiro.com), que além de ter trazido a cultura vlogueira ao mundo cervejeiro (a parte de vídeos do site é muito interessante, penso até em fazer uma versão do LeoVivi a partir do ano que vem, com estilos que ele ainda não abrangeu, é claro!), é um grande conhecedor de cervejas e atencioso para com os frequentadores (respondendo pacientemente a TODAS as perguntas feitas), o que para mim, fez e continua fazendo diferença demais! A segunda dica é que no canal TLC (94 na Net em Belo Horizonte) está passando, nas segundas-feiras (às 23h), o programa Mestres Cervejeiros (Brew Masters no original), que trata das experiências cervejeiras de Sam Calagione (da Dogfish Head, uma grande e ousada artesanal dos EUA). Além das malices e ego do apresentador (dando um toque de documentário e reality show ao programa), vale muito a pena assistir, tanto pela parte de história, quanto pela de tecnologia de fabricação de cerveja, que são muito bem apresentadas. Minha última dica fica pela visita ao site do World Beer Awards (http://www.worldbeerawards.com/), onde pode ser baixado o livro com as campeãs de 2011 na competição, tendo até algumas representantes brasileiras da Eisenbahn. A grande campeã foi (pela segunda vez) a Weinhenstephan Vitus (a única Weizenbock clara do mundo), e o prêmio, na minha opinião, é bem digno.

Abraços e até uma próxima, que deve voltar a falar de experiências de degustação! Porque já estou ficando louco de tanto tempo sem beber cerveja boa!